Torcedores ocupam sede do Corinthians e trancam portão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Corinthians viveu, nesta terça-feira (3), mais um dia agitadíssimo em sua sede social. Desta vez, torcedores ocuparam o Parque São Jorge anunciando protesto e trancaram o portão de entrada, coberto pela faixa: “Luto, fechado por má istração”.

Imagens que circulam nas redes sociais exibem o momento em que ao menos cem pessoas superam facilmente os seguranças. Na sequência, o presidente da Gaviões da Fiel, Alexandre Domênico Pereira, o Alê, a uma corrente e fecha a simbolicamente a entrada dos carros —a catraca dos sócios continuou funcionando para entrada e saída de pedestres.

“O protesto ocorre de forma pacífica e exige mudanças urgentes e estruturantes”, afirma nota assinada pela Gaviões e por outras cinco organizadas alvinegras: Camisa 12, Pavilhão Nove, Estopim da Fiel, Coringão Chopp e Fiel Macabra.

O texto diz que “as exigências são claras e inegociáveis: Fiel Torcedor [sócio-torcedor] com direito a voto, mudança imediata do estatuto e punição as responsáveis que deixaram dívidas em suas gestões”. “A Revolução Corinthiana começa agora!”, conclui a nota.

O grupo permaneceu na sede da agremiação, na zona leste de São Paulo, até o início da noite. A saída se deu com a presença da polícia, sem conflitos ou detenções. Enquanto permaneceram no Parque, os torcedores exibiram faixas com os dizeres “fora, ratazanas”, “Fiel Torcedor com direito ao voto”, “punição para os culpados, sem exceção” e “o clube é do povo”.

O Corinthians vive clima de ebulição política, com o presidente Augusto Melo afastado em processo de impeachment. Os conselheiros votaram em 26 de maio pela destituição do dirigente, e uma assembleia geral dos sócios foi agendada para 9 de agosto para que seja referendada –ou não– a decisão do Conselho.

Melo não aceitou, no entanto, o afastamento e tentou retomar o poder no último sábado (31). A conselheira Maria Angela de Souza Ocampos, sua aliada, apresentou-se como a nova presidente do Conselho Deliberativo e disse ter anulado os atos de Romeu Tuma Júnior no cargo, inclusive a condução da votação do impeachment.

O presidente interino, Osmar Stabile, resistiu quando Augusto apareceu para recuperar sua velha cadeira. Torcedores invadiram a sala da presidência, e a polícia foi chamada. A situação foi controlada, sem que ninguém fosse detido, mas o episódio terminou com dois homens dizendo ser o presidente do clube.

No dia seguinte, Augusto não foi ao estádio de Itaquera, onde o Corinthians enfrentou o Vitória, pelo Campeonato Brasileiro. Stabile atuou normalmente como presidente e foi o responsável por receber o técnico da seleção brasileira, Carlo Ancelotti, que ouviu gritos de “el, el, el, Ancelotti é da Fiel” e viu empate por 0 a 0.

O resultado ampliou a crise do time, que foi eliminado da Copa Sul-Americana na semana ada e ocupa a 11ª colocação do Brasileiro. “A gente vive o dia a dia do Corinthians. A guerra política, infelizmente, atrapalha o nosso trabalho”, afirmou o meia Rodrigo Garro.

O processo de impeachment de Augusto Melo é baseado em acusações de supostas irregularidades no fechamento do contrato de patrocínio com a casa de apostas VaideBet. Quatro dias antes da votação do Conselho, Melo foi indiciado sob suspeita de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.

O objeto da investigação são justamente o acordo com a casa de apostas e o destino do dinheiro da comissão paga a um suposto intermediário. Essa investigação levou a polícia a oferecer uma denúncia ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Melo nega irregularidades e afirma que o indiciamento se deu de maneira “prematura, ilegal e desprovida de justa causa”.

Principal organizada alvinegra, a Gaviões não manifestava oficialmente apoio a Augusto, mas foi próxima de sua gestão desde o início. A uniformizada chegou a organizar protesto para impedir a votação do impeachment, em janeiro, quando a sessão foi adiada.

Só recentemente, quando a situação do presidente ficou ainda mais problemática, a diretoria da torcida ou a apoiar seu afastamento. Mesmo agora, faz a ressalva de que Melo não deve ser substituído por ninguém do grupo que comandou o clube de 2007 a 2023, liderado por Andrés Sanchez.

O processo é sempre imprevisível no Corinthians, porém a votação dos sócios a respeito do impeachment, por enquanto, continua agendada para 9 de agosto. Basta maioria simples para que o afastamento de Augusto se torne definitivo.

Nesse caso, uma eleição indireta será convocada, com a participação apenas de conselheiros. Eles definirão quem assumirá a presidência da agremiação em um mandato-tampão até o fim de 2026, quando terminaria o mandato de Melo.

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