SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Kiev foi o alvo principal no quinto dia da retaliação russa pelo ataque feito pelos ucranianos contra sua frota de bombardeiros, recebendo o grosso dos 322 drones e mísseis lançados por Moscou contra o vizinho.
Com isso, a guerra iniciada quando Vladimir Putin invadiu a Ucrânia em 2022 chega à sua terceira semana de maior intensidade nos ataques aéreos. Se até aqui os recordes de ações envolviam duas centenas de armamentos, agora os números vão de 300 a quase 500 de cada lado.
A ação contra a capital ucraniana foi maciça nesta terça (10). Sete dos dez distritos da cidade foram atingidos, naquilo que o Ministério da Defesa russo disse ter sido um ataque contra centros de comando e fábricas militares.
Kiev ou o dia com grossas colunas de fumaça, e despejou ao menos 120 toneladas de água por helicópteros para conter incêndios. Ao menos uma pessoa morreu e a histórica catedral de Santa Sofia, no centro, foi danificada. Em Odessa (sul), uma maternidade foi atingida, e duas pessoas morreram.
Houve, contudo, uma mudança de padrão no ataque. O número de mísseis foi reduzido chegaram a ser 40 na semana ada, indo a 20 na maior ação da guerra, na segunda (9). Agora, disse Kiev, foram 7 disparados e derrubados, além dos 315 drones, 277 abatidos.
Mísseis são, na teoria, mais difíceis de abater do que os drones e muito mais caros, o que explica seus menores números: um modelo de cruzeiro sai por R$ 6,5 milhões, ante R$ 100 mil aviões-robôs mais sofisticados.
O aspecto psicológico pesa: o bombardeio durou a noite toda, com moradores procurando proteção em estações de metrô e outros abrigos. Com efeito, uma pesquisa divulgada nesta terça pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev mostrou um arrefecimento no ânimo dos ucranianos.
Segundo o levantamento feito com 2.004 pessoas e margem de erro de 2,9 pontos, 52% dos moradores do país são contra qualquer concessão territorial em troca da paz. Esse número era de 87% há dois anos.
Ao mesmo tempo, as condições draconianas apresentadas pelos russos para a negociação, não só com perdas mas também com fim de neutralidade e até obrigação de realização de eleições, são rejeitadas por 82%, dando gás para a posição mais inflexível do governo de Volodimir Zelenski.
A atual fase das hostilidades, aliás, reflete a aposta de ambos os lados em se mostrar duro, dado que ninguém pode cantar vitória sobre o rival. O processo de conversas, que inclui uma segunda rodada de troca de prisioneiros iniciada na segunda, é resultado da mudança de posição dos Estados Unidos sob Donald Trump, que abandonou o apoio total a Zelenski.
A guerra aérea foi intensificada há pouco mais de duas semanas, quando Kiev lançou seus maiores ataques com drones contra instalações militares russas.
Há dois domingos, no dia 1º, os russo lançaram seu então maior bombardeio, só para serem humilhados no mesmo dia com o a ação que destruiu talvez 10% de seus bombardeiros estratégicos com pequenos drones contrabandeados em caminhões para perto das bases.
A partir daí, a Ucrânia seguiu com seus ataques assimétricos, mirando até a simbólica ponte da Crimeia anexada em 2014. Nesta terça, os quatro aeroportos de Moscou voltaram a ser fechados, e a defesa aérea russa contou 102 abates de drones na madrugada o que sugere um número ainda maior de armamentos lançados.
No geral, a maré virou e Moscou ou a recordes sucessivos de ataques retaliatórios que foram anunciados por Putin a Trump.
Com a anuência implícita de Washington, Moscou chegou a empregar 499 armamentos numa só noite, de domingo (8) para segunda. Ainda há o temor de que Putin possa empregar o temido míssil balístico Orechnik, com ogivas múltiplas, como um “grand finale” de sua vingança.
Enquanto os adversários se golpeiam pelo ar, em solo os russos têm acelerado aquilo que parece ser uma ofensiva coordenada para o verão do Hemisfério Norte, que começa neste mês. O maior avanço ocorre em Sumi, no norte, uma área que não integra o menu de exigências territoriais de Putin.
A capital regional vê a aproximação de tropas russas a cada dia, e em Dnipropetrovsk (centro-sul), outro ponto que só era alvo de ataques aéreos até aqui, Moscou anunciou a conquista de mais um vilarejo nesta terça.
A motivação oficial russa é a de criar áreas tampão nas fronteiras, visando proteger seu território, mas isso é algo inócuo na era dos drones de longa distância. Assim, a suspeita em Kiev é de que a faturar verdadeira que Putin quer apresentar seja ainda maior.