Com dois anos de execução, o projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB) atingiu resultados inéditos para a conservação da fauna nacional. Até agora, foram sequenciados 743 genomas pertencentes a 413 espécies, além da análise de 432 amostras ambientais. Os dados ampliam significativamente a precisão de instrumentos voltados à preservação da biodiversidade no Brasil.
A iniciativa é coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com o Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS). Os primeiros resultados estão sendo apresentados em Brasília (DF), até 28 de maio, com a presença de representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ITV DS.
Atualmente, o GBB conta com 114 projetos ativos, que incluem a geração de códigos de barras de DNA, o sequenciamento genômico de espécies estratégicas para conservação e bioeconomia, além do uso de protocolos de DNA ambiental/metabarcoding para monitoramento da biodiversidade em Unidades de Conservação.
Resultados expressivos
Com 2.249 amostras coletadas, o projeto já realizou 1.175 sequenciamentos. Entre os destaques estão 23 genomas de referência — sequências genéticas completas e de altíssima qualidade —, incluindo espécies ameaçadas como:
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Onça-pintada (Panthera onca)
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Ararajuba (Guaruba guarouba)
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Peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis)
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Peixe-leão (Pterois volitans), espécie exótica invasora.
Também foram finalizados 336 genomas populacionais de 11 espécies, entre elas:
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Harpia (Harpia harpyja)
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Anta (Tapirus terrestris)
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Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus)
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Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari)
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Saíra-apunhalada (Nemosia rourei), considerada criticamente ameaçada.
“O genoma de referência é como se fosse um ‘mapa genético’ completo de uma espécie, que ajuda a entender melhor como ela vive, se adapta e quais desafios enfrenta, tais como doenças, impactos das mudanças climáticas ou a perda de diversidade genética. Com essas informações, é possível criar estratégias mais eficazes para proteger animais e plantas ameaçados”, explica Amely Branquinho Martins, coordenadora do GBB pelo ICMBio.
O projeto também alcançou o sequenciamento de 384 genomas organelares — provenientes de mitocôndrias e cloroplastos — de 379 espécies, destacando peixes de água doce, libélulas e mamíferos terrestres ameaçados, como:
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Peixe-elétrico (Gymnotus carapo)
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Ciclídeo-anão (Apistogramma regani)
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Libélula Hetaerina sanguinea
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Queixada (Tayassu pecari)
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Cuíca (Marmosops ocellatus).
Inovação no monitoramento ambiental
Outro avanço importante foi a aplicação da tecnologia de DNA ambiental/Metabarcoding, que permite identificar a biodiversidade a partir de vestígios genéticos presentes no solo e na água, sem necessidade de capturar indivíduos. Projetos-piloto foram implementados na Floresta Nacional do Tapajós (PA) e na Reserva Extrativista do Rio Cajari (AP).
“O GBB se firma como uma das maiores iniciativas de genômica aplicada à biodiversidade no Brasil, unindo ciência, tecnologia e conservação em uma rede colaborativa que deixará um legado para o mundo”, comemora Guilherme Oliveira, diretor científico do ITV DS.
Impacto e formação de pesquisadores
Em apenas dois anos, o GBB concedeu 75 bolsas de pesquisa e atualmente mobiliza 289 pesquisadores de 107 instituições nacionais e internacionais, incluindo universidades, ONGs, zoológicos e órgãos governamentais. Mais de 230 pessoas já foram capacitadas no uso de ferramentas genômicas aplicadas à conservação.
Durante o primeiro ano, o foco foi estabelecer uma metodologia para identificar as principais necessidades de conservação do ICMBio que poderiam ser atendidas por ferramentas genéticas. Também foi desenvolvida uma plataforma para garantir a segurança, padronização e rastreabilidade das amostras.
Investimento e metas futuras
Com investimento previsto de US$ 25 milhões até 2027, o projeto prevê:
Metas até 2027 | Quantidade |
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Genomas de referência | 80 |
Genomas populacionais | 1.000 |
Códigos de barras de DNA | 1.600 |
O GBB também está alinhado ao Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade (Monitora), integrando protocolos inovadores para coleta e análise de DNA ambiental, com potencial para ampliar a escala de monitoramento ambiental e fortalecer ações de conservação e bioeconomia no Brasil.
Em números – 2 anos do projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB)
Indicadores | Números |
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Amostras recebidas | 2.249 |
Projetos em andamento | 114 |
Sequenciamentos realizados | 1.175 |
Genomas de 413 espécies concluídos | 743 |
Genomas de referência | 23 |
Genomas populacionais | 336 |
Genomas organelares | 384 |
Estudos de DNA ambiental/metabarcoding | Floresta Nacional do Tapajós (PA) e Reserva Extrativista do Rio Cajari (AP) |
Bolsas de pesquisa concedidas | 75 |
Pesquisadores envolvidos | 289 |
Instituições colaboradoras | 107 |