Projeto Genômica da Biodiversidade avança e revela mapa genético de mais de 400 espécies da fauna brasileira

Sequenciamento em laboratório. Foto: Miguel Aun/ICMBio

Com dois anos de execução, o projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB) atingiu resultados inéditos para a conservação da fauna nacional. Até agora, foram sequenciados 743 genomas pertencentes a 413 espécies, além da análise de 432 amostras ambientais. Os dados ampliam significativamente a precisão de instrumentos voltados à preservação da biodiversidade no Brasil.

A iniciativa é coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com o Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS). Os primeiros resultados estão sendo apresentados em Brasília (DF), até 28 de maio, com a presença de representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ITV DS.

Atualmente, o GBB conta com 114 projetos ativos, que incluem a geração de códigos de barras de DNA, o sequenciamento genômico de espécies estratégicas para conservação e bioeconomia, além do uso de protocolos de DNA ambiental/metabarcoding para monitoramento da biodiversidade em Unidades de Conservação.

Resultados expressivos

Com 2.249 amostras coletadas, o projeto já realizou 1.175 sequenciamentos. Entre os destaques estão 23 genomas de referência — sequências genéticas completas e de altíssima qualidade —, incluindo espécies ameaçadas como:

  • Onça-pintada (Panthera onca)

  • Ararajuba (Guaruba guarouba)

  • Peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis)

  • Peixe-leão (Pterois volitans), espécie exótica invasora.

Também foram finalizados 336 genomas populacionais de 11 espécies, entre elas:

  • Harpia (Harpia harpyja)

  • Anta (Tapirus terrestris)

  • Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus)

  • Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari)

  • Saíra-apunhalada (Nemosia rourei), considerada criticamente ameaçada.

“O genoma de referência é como se fosse um ‘mapa genético’ completo de uma espécie, que ajuda a entender melhor como ela vive, se adapta e quais desafios enfrenta, tais como doenças, impactos das mudanças climáticas ou a perda de diversidade genética. Com essas informações, é possível criar estratégias mais eficazes para proteger animais e plantas ameaçados”, explica Amely Branquinho Martins, coordenadora do GBB pelo ICMBio.

O projeto também alcançou o sequenciamento de 384 genomas organelares — provenientes de mitocôndrias e cloroplastos — de 379 espécies, destacando peixes de água doce, libélulas e mamíferos terrestres ameaçados, como:

  • Peixe-elétrico (Gymnotus carapo)

  • Ciclídeo-anão (Apistogramma regani)

  • Libélula Hetaerina sanguinea

  • Queixada (Tayassu pecari)

  • Cuíca (Marmosops ocellatus).

Inovação no monitoramento ambiental

Outro avanço importante foi a aplicação da tecnologia de DNA ambiental/Metabarcoding, que permite identificar a biodiversidade a partir de vestígios genéticos presentes no solo e na água, sem necessidade de capturar indivíduos. Projetos-piloto foram implementados na Floresta Nacional do Tapajós (PA) e na Reserva Extrativista do Rio Cajari (AP).

“O GBB se firma como uma das maiores iniciativas de genômica aplicada à biodiversidade no Brasil, unindo ciência, tecnologia e conservação em uma rede colaborativa que deixará um legado para o mundo”, comemora Guilherme Oliveira, diretor científico do ITV DS.

Impacto e formação de pesquisadores

Em apenas dois anos, o GBB concedeu 75 bolsas de pesquisa e atualmente mobiliza 289 pesquisadores de 107 instituições nacionais e internacionais, incluindo universidades, ONGs, zoológicos e órgãos governamentais. Mais de 230 pessoas já foram capacitadas no uso de ferramentas genômicas aplicadas à conservação.

Durante o primeiro ano, o foco foi estabelecer uma metodologia para identificar as principais necessidades de conservação do ICMBio que poderiam ser atendidas por ferramentas genéticas. Também foi desenvolvida uma plataforma para garantir a segurança, padronização e rastreabilidade das amostras.

Investimento e metas futuras

Com investimento previsto de US$ 25 milhões até 2027, o projeto prevê:

Metas até 2027 Quantidade
Genomas de referência 80
Genomas populacionais 1.000
Códigos de barras de DNA 1.600

O GBB também está alinhado ao Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade (Monitora), integrando protocolos inovadores para coleta e análise de DNA ambiental, com potencial para ampliar a escala de monitoramento ambiental e fortalecer ações de conservação e bioeconomia no Brasil.

Em números – 2 anos do projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB)

Indicadores Números
Amostras recebidas 2.249
Projetos em andamento 114
Sequenciamentos realizados 1.175
Genomas de 413 espécies concluídos 743
Genomas de referência 23
Genomas populacionais 336
Genomas organelares 384
Estudos de DNA ambiental/metabarcoding Floresta Nacional do Tapajós (PA) e Reserva Extrativista do Rio Cajari (AP)
Bolsas de pesquisa concedidas 75
Pesquisadores envolvidos 289
Instituições colaboradoras 107
Fonte: ICMBio

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