Ex-ministro da Defesa diz que alertou Bolsonaro sobre gravidade de minuta do golpe

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira disse nesta terça-feira (10) ao STF (Supremo Tribunal Federal) que alertou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a gravidade da decretação de medidas de exceção após a vitória de Lula (PT) nas eleições presidenciais.

O general afirmou que o alerta foi feito a Bolsonaro após a reunião do dia 7 de dezembro de 2022, na qual o ex-presidente apresentou aos chefes militares uma série de considerações que embasariam a decretação de estado de defesa ou estado de sítio.

“Depois que terminou a reunião, eu cheguei ao presidente, o [comandante do Exército] Freire Gomes estava do meu lado. Alertamos da gravidade se ele estivesse pensando em estado de defesa e estado de sítio. Foi uma tempestade de ideias sobre ações futuras que viessem a acontecer caso as coisas fossem à frente”, disse o ex-ministro.

Paulo Sérgio disse ao Supremo que estava preocupado com as possíveis medidas a serem adotadas por Bolsonaro. A apreensão, diz, aumentou com os pedidos de intervenção militar nos acampamentos em frente aos quartéis, com a efervescência das mídias sociais e especialmente com a carta dos oficiais da ativa que pressionava o chefe do Exército a apoiar um golpe de Estado.

O ex-ministro disse que foi por esse motivo que ele convocou os chefes das Forças Armadas para uma reunião em 14 de dezembro de 2022 na sede do Ministério da Defesa. “Eu temia uma fissura. Até mesmo dentro do três comandantes das Forças eu queria uma unidade, preservar a coesão e a disciplina”, diz.

Segundo o general, ele visitou Bolsonaro no dia seguinte à reunião com os comandantes militares para confirmar que as Forças Armadas não apoiariam uma possível medida de exceção.

“Eu conversei: ‘Presidente não se fala mais nisso, homem’. E realmente eu acreditei. A reunião do dia 14 foi exatamente para fechar questão e não tratar mais nos assunto”, completou.

O militar disse ao ministro Alexandre de Moraes que só viu uma minuta do golpe -a do dia 7 de dezembro, com os considerandos.

Paulo Sérgio Nogueira é apontado pela denúncia como um dos líderes militares que apoiaram as conspirações contra Lula. O general ainda pressionou, segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), os chefes das Forças Armadas a aderir aos planos golpistas.

Segundo a acusação ainda, ele teria atuado para manter o discurso de que a eleição de 2022 foi fraudada e participado de discussões sobre a minuta golpista.

A Primeira Turma do STF iniciou nesta segunda (9) a fase dos interrogatórios do processo, quando ouviu o tenente-coronel Mauro Cid e o ex-chefe da Alexandre Ramagem.

Cid foi o primeiro a ser ouvido por ser réu-colaborador. A partir de então, os réus são ouvidos por ordem alfabética: Almir Garnier (ex-chefe da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).

As investigações da trama golpista apontam o ex-ministro como um dos atores que se empenharam em colocar pressão sobre os comandantes das Forças Armadas a aderir o plano golpista para manter Bolsonaro no poder.

Além dos documentos que seriam as “minutas do golpe”, a delação de Cid, um dos fios condutores da denúncia, os depoimentos dos então comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Junior, apontam que essa minuta foi apresentada aos chefes das Forças Armadas, em busca de adesão, em ao menos duas reuniões –em 7 de dezembro de 2022, pelo próprio Bolsonaro, e em 14 de dezembro, pelo general da reserva Paulo Sérgio.

O general Paulo Sérgio Nogueira teve uma ascensão rápida e inesperada no governo Bolsonaro. Ele era somente o quarto oficial mais antigo no Exército quando o presidente e Braga Netto, então ministro da Defesa, decidiram nomeá-lo para o comando da Força, em abril de 2021.

Exatamente um ano após assumir o Comando do Exército, Paulo Sérgio foi chamado para chefiar o Ministério da Defesa.

A cruzada do general contra o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) começou em maio de 2022, quando a corte rejeitou três sugestões das Forças Armadas para mudança no processo eleitoral daquele ano.

Declarações públicas do então ministro da Defesa contra a forma como o tribunal conduzia a Comissão de Transparência fizeram estremecer a relação entre os ministros do tribunal e os militares.

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