SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda pela terceira sessão seguida nesta segunda-feira (9) e renovou o menor valor de fechamento do ano, de R$ 5,561, um recuo de 0,13%. É a menor cotação para a moeda desde 8 outubro do ano ado, quando encerrou em R$ 5,532. Em 2025, o dólar acumula perdas de 9,98%.
O dia foi marcado pelo anúncio do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de recuar das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e pelo encontro de autoridades dos Estados Unidos e da China para debater a guerra comercial que os países travam.
Às 9h07, logo após a abertura do mercado à vista de câmbio, o dólar atingiu a cotação mínima de R$ 5,552, um recuo de 0,30%. Mas ou a subir diante do noticiário sobre as medidas, chegando a R$ 5,598, na máxima do dia, uma alta de 0,52%, às 10h29.
Ao longo da sessão, porém, ou a desacelerar alta e inverteu o sinal, encerrando com queda leve. Investidores evitaram se posicionar em uma direção específica até que fique mais claro o efeito do pacote do governo sobre os ativos financeiros e as contas públicas.
Já a Bolsa encerrou com queda de 0,29%, a 135.699 pontos, com Petrobras e outras blue chips, como Itaú e Bradesco, entre as maiores perdas. Mais cedo, o índice recuou mais de 1%, chegando aos 134.118 pontos na mínima do pregão. No melhor momento, bateu nos 136.105 pontos.
No domingo (8), Haddad se reuniu com líderes de partidos e anunciou que chegou a um acordo para diminuir o alcance do decreto com mudanças no IOF e adotar novas medidas para compensar a perda de arrecadação.
As medidas anunciadas foram o aumento da taxação de apostas esportivas, mudança na tributação de instituições financeiras e a cobrança de Imposto de Renda de 5% sobre títulos atualmente isentos, como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícola). Segundo três parlamentares, Haddad também citou na reunião uma mudança na alíquota de J (Juros sobre Capital Próprio).
As medidas serão adotadas com a edição de uma MP (Medida Provisória). Haddad disse que vai discutir os detalhes desse plano com o presidente Lula (PT) nesta terça-feira (10), após o retorno do presidente ao Brasil.
Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, avalia com cautela o real impacto das mudanças propostas. Para ele, a discussão esbarra em desafios estruturais de longo prazo.
“Fica muito difícil fazer qualquer conta de se essas medidas compensam a redução do IOF e se ajudam no pacote fiscal. Acho que tudo isso é cortina de fumaça para um problema muito mais sério do fiscal, que é cortar gasto. Enquanto ficar tentando só arrumar formas de arrecadar mais, o problema do fiscal de longo prazo continua existindo”, disse Rodrigo Marcatti economista e CEO da Veedha Investimentos.
Nesta segunda, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse não conseguir garantir que o Congresso aprovará as medidas de compensação ao aumento do IOF apresentadas pelo governo federal na véspera.
Durante toda a semana ada, investidores manifestaram expectativa com o resultado da reunião de membros do governo com os parlamentares, em meio à percepção de que o anúncio de Haddad e sinais de maior articulação entre Executivo e Legislativo na pauta fiscal poderiam levar a um maior otimismo com os ativos brasileiros.
Os recuos no projeto original do IOF, que havia repercutido mal em parte do mercado e entre parlamentares, têm sido em geral bem recebidos.
“O governo conseguiu alinhar uma comunicação diferente em relação ao que vimos duas semanas atrás. No dia do anúncio da alta do IOF, veio junto com uma política de corte de gastos. O que então, teoricamente deveria ter sido positivo, acabou tendo o efeito contrário no mercado”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“Então, a partir do momento em que o governo consegue articulação com o Congresso, mantendo a pauta de equilíbrio fiscal, a reação é sempre boa”.
No mercado de ações, a notícia que citou a Petrobras em ação da Sete Brasil e também o “downgrade” que sofreu de analistas do Santander, pesaram sobre os papeis da empresa e contribuíram para o sinal negativo da Bolsa neste pregão.
A PETR3, ações ordinárias, com direito a voto em assembleias, e a PETR4, ações preferenciais, com preferência por dividendos, fecharam com quedas de 0,57% e 1,04%, respectivamente, após caírem mais de 2% pela manhã.
A decisão do Santander foi atribuída a uma situação financeira difícil estimada para 2025 e 2026, que pode se agravar ainda mais se os preços do petróleo recuarem nos próximos trimestres.
Ainda no contexto nacional, a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, mostrou que a expectativa para a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), é de 5,44% ao fim deste ano, acima da previsão de 5,46% na pesquisa anterior. Para 2026, a projeção para a alta dos preços no país foi mantida em 4,5% -o centro da meta perseguida pelo BC é de 3%.
A pesquisa semanal com uma centena de economistas mostrou ainda a previsão de que o PIB (Produto Interno Bruto) suba 2,18% neste ano, acima da projeção de crescimento de 2,13% na semana anterior. Para 2026, a expectativa para a expansão econômica subiu ligeiramente para 1,81%, contra 1,80% anteriormente.
Já na cena internacional, os mercados globais estiveram à espera de notícias sobre o encontro entre autoridades dos Estados Unidos e da China, em Londres, para tentar neutralizar a disputa comercial entre os países. A reunião, porém, não rendeu resultados concretos.
Os representantes se reuniram na Lancaster House e há expectativa de que um novo encontro ocorra nesta terça-feira (10) para tentar retomar o caminho de um acordo preliminar firmado em maio em Genebra, que ajudou a reduzir a temperatura entre Washington e Pequim.
A retomada das negociações comerciais entre as duas maiores potenciais mundiais tem contribuído para acalmar as preocupações dos mercados com a economia norte-americana.
Na última quinta-feira, Trump e o líder chinês Xi Jinping se telefonaram, no que foi o primeiro contato formal entre os dois desde que o republicano assumiu a Casa Branca. Até então, a última conversa havia ocorrido em janeiro, antes da posse.
O telefonema partiu de Trump, segundo a agência estatal chinesa Xinhua. A repórteres no Salão Oval, o presidente afirmou que as discussões comerciais continuam em andamento e estão em boa forma, acrescentando que espera ir à China em algum momento em que Xi Jinping também visite os EUA.
Agora os investidores aguardam novidades sobre as negociações dos EUA com parceiros a fim de projetar qual será o panorama das tarifas de Trump daqui para frente.
Dados divulgados na sexta sobre a economia americana acalmaram as preocupações dos agentes financeiros sobre uma piora no cenário do mercado de trabalho dos EUA diante das tarifas de Trump.
O Departamento do Trabalho dos EUA informou que o país abriu 139 mil vagas em maio, após 147 mil em abril, enquanto a taxa de desemprego permaneceu em 4,2% pelo terceiro mês consecutivo. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 130 mil postos.
Apesar de uma desaceleração em relação ao mês anterior, os dados vieram acima do esperado.
“Esses dados reforçaram a percepção de que a maior economia do mundo segue aquecida o que, por um lado, é positivo para o sentimento global, mas por outro sem dúvidas reduz as apostas em cortes mais agressivos de juros pelo Federal Reserve”, disse Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital.